sábado, 8 de setembro de 2007

Velhice

Com o tempo, a nossa mente se quebra. E fragmentada, se perde... pequenos pedaços do que um dia já ousou ser. Um punhado de migalhas de um futuro imutável e incerto. Um emaranhado caótico de pensamentos retos e curvos, e bizarros.
Vai-se envelhecendo a carne, a expressão, as idéias.
Vai-se perdendo a surpresa,
vai-se morrendo.
E soluçando o velho ia, beirando o abismo, num choro curtinho, pedindo: "um pouquinho... só mais um pouquinho". As palavras soavam roucas, pairavam uns metros, caiam no vazio do nada, e, ironia, atendidas se faziam quando de nada adiantavam... (até porque não há nada que o nada possa fazer...).
E a sobrevivência que um dia era alegre, agora era um fardo. O velho está velho, e nada muda isso. Perdendo sua identidade, se perdeu no tempo. Não sabe se faz 8, se tinha 39, se está com 97... Não sabe.
Adentrava a igreja pisando o vazio (de novo o vazio). O vazio se tornou seu peso maior, lhe puxava. Encarava o padre, encarava aquela desconhecida... quem? quem era? De repente lembrava. Que desatino, aquela velha conhecida... sim, casava-se. Casava-se com a solidão.
Momentos bons? Nunca existiram... nesse mar de pessimismo que a velhice o jogou, não há nada de bom. Há a morte, há a desilusão, o descaso. Há somente a antítese. E o ideal? Lá, longínquo... na superfície. O velho não agüentaria nadar à superfície, prefere a comodidade do choro.
8, 39, 97, que diferença faz? Sua vida andava em círculos, sem um sentido coerente. Era um animal, continuava um animal, e de animal só passaria à poeira... a uma inútil nuvem de poeira.

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